Dado o fim, nota-se que Aja tinha as melhores das intensões para esse filme, mas acontece que o saldo final, bagunçado, não o deixa chegar perto dessas pretensões.
Ele funciona perfeitamente bem por um lado, já que, sendo um Terror componente do (velho) ~Novo Extremismo Francês~, é dotado de tudo aquilo que o movimento requer: protagonismo feminino, pouca encheção de linguiça, dinamicidade e, claro, um splatter bem apurado. E é até interessante notar como o Aja se esforça pra se comunicar com o espectador, lançando luz sobre o final, ainda no decorrer do filme.
Como exemplo, observemos a sequência em que Marie está seguindo o carro do assassino: nela, um dos planos escolhidos por Aja pra compor aquela situação é justamente um close-up frontal em Marie dentro do carro, onde se pode observar que metade do rosto dela está iluminado, enquanto a outra metade está coberta por sombras, enegrecida. Luz e Escuridão, Bem e Mal, deu pra entender? Pois é. Essa foi uma das formas que o filme encontrou para fazer alusão, já à caminho do final, ao fato de Marie possuir o afamado transtorno dissociativo de identidade, que acaba por se revelar no fim do filme.
Bem bacana, não? Eu achei. Só que aí vem o outro lado da coisa – tão, ou mais, importante do que o restante: o texto do filme (substancialmente composto de descrição de situações, dado o número reduzido de falas – o que não é um problema automático, é claro) deixa tantas coisas em aberto, mal explicadas, que a conclusão acaba ficando desamparada, sabe? E isso faz a esperada profundidade psicológica dele soar mais do que forçada. Daí, a dificuldade de muita gente em digerir o final; é de se entender.
Podaria, sim, ter sido melhor (inclusive, se minha namorada não tivesse me spoileado o grand finale), mas, como entretenimento, a franqueza cabe aqui: até que Alta Tensão funciona bem.
Aqui, um filme que, definitivamente, não merece a nota parca e insossa que tem. É bem realizado demais pra ter só isso. É conduzido de um jeitinho todo incisivo, e não à toa, a tensão rasteira da trama, aliada ao tom lúgubre, gruda na gente e não dá alívio nem quando deve – a gente quase não percebe e, quando se dá conta, PLAU!, ta lá, cheio de suspeitas e quase tão desconfiado quanto o Will. O único problema é a conclusão do filme, que acaba esbarrando num ponto não tão crível quanto deveria, mas esse aspecto anda (bem) longe de prejudicar o filme.
Enfim, ótimo Thriller. E espero, já ansioso, pelo próximo trabalho da Karyn – com os dedos cruzados pra que ela siga nessa vibe e esqueça suas máculas passadas, de coisas como "Aeon Flux" e "Garota Infernal".
Can only be a joke. This movie only with 56%?